O TESOURO
DE GARIBALDI
Esta estória escutei à beira de fogão a lenha. Contada por
tias-avós, em noites de lua cheia, geada branqueando os campos... frio de
rachar! Muito chimarrão para os homens,
e para as mulheres o mate doce com muita erva de chá: manzanilha, carqueja,
funcho...
Nós, crianças, acocoradas aqui e ali, somente olhávamos... a tal
bebida nos era proibida! E, escutando as conversas dos mais velhos, tínhamos os
olhos esbugalhados, coração aos sobressaltos (ainda mais quando caía alguma
semente de “ocalito” sobre o telhado de zinco!).
A República Juliana fenecia.
A República Juliana fenecia.
Garibaldi, junto a Anita, resolveu emigrar para a Banda Oriental
do Uruguai.
A sorte estava virando
para o lado dos monarquistas, que tinham olhos e ouvidos por todos os rincões
do Pampa.
Garibaldi conseguiu chegar até a fronteira, mas, informado por amigos republicanos, resolveu não fazer pouso em Jaguarão, pois sua presença na cidade seria notada. Era muito perigosa tão importante figura, farroupilha cair em mãos imperiais! Melhor seria cruzar o rio num lugar mais distante e ermo - convenceram-lhe os amigos.
Garibaldi conseguiu chegar até a fronteira, mas, informado por amigos republicanos, resolveu não fazer pouso em Jaguarão, pois sua presença na cidade seria notada. Era muito perigosa tão importante figura, farroupilha cair em mãos imperiais! Melhor seria cruzar o rio num lugar mais distante e ermo - convenceram-lhe os amigos.
O Passo do Centurião era o lugar perfeito para tal peripécia.
Dali, Melo estava a algumas léguas.
O Passo era, e felizmente ainda é, um local agreste e luxuriante,
com mato muito fechado e - dizem - com
muita cobra urutu - a “cruzeira de los
gauchos" - de bote curto e
certeiro.
Havia também, para facilitar as montarias, um empedrado natural,
típico “camino de los quileros” (gente meio brasileira, meio oriental, que,
desde que o mundo é mundo, conhecia cada curva, cada camalote, cada ilha do
rio).
Mas Garibaldi foi descoberto.
Mas Garibaldi foi descoberto.
Com os imperiais em seu encalço, desesperado, enterra todo o seu
dinheiro e pertences de valor - dizem que inclusive uma bandeira da República
Rio-Grandense, presente do general Bento Gonçalves - em três grandes panelas de
ferro e vadeia, junto com Anita, o Jaguarão, somente com a roupa do corpo.
O tempo passou...
O tempo passou...
Após escaramuças no Uruguai, Garibaldi tomou o rumo da Europa,
em direção à sua querida Itália - que naqueles tempos ainda era composta de
vários reinos - para participar de sua unificação... Bom, mas isso é outra história!
Correram os anos e, um dia, um pobre gaudério, que procurava uma rês desgarrada, achou, numa das grotas mais perdidas do Passo do Centurião, junto ao pé de um velho e grande jerivá, semienterrada, uma grande panela de ferro com muitas moedas de ouro.
Correram os anos e, um dia, um pobre gaudério, que procurava uma rês desgarrada, achou, numa das grotas mais perdidas do Passo do Centurião, junto ao pé de um velho e grande jerivá, semienterrada, uma grande panela de ferro com muitas moedas de ouro.
Era parte do tesouro de Garibaldi.
O sortudo mudou de vida, comprou terra, uma boa ponta de gado, e
cavalo de patrão pra ele e seus dois filhos. .A notícia do enriquecimento
correu mundo...
Um vizinho, homem maleva, inescrupuloso, de uma inveja medonha e
com vários crimes nas costas, armou, junto com outros de sua laia, uma cilada
para o estancieiro e seus filhos.
Fizeram toda espécie de judiaria e tortura, para que
confessassem: “Onde estavam as outras duas panelas de ferro? ”Mas, se os três
sabiam o lugar, o segredo morreu com
eles.
Os corpos foram atirados num perau e viraram comida de peixe.
Contam que, ainda hoje, em noites de lua nova, três luzes
vagueiam por entre os sarandis que nascem junto às pedras do Passo do
Centurião.
Serão as almas dos três mortos guardando as outras duas panelas
de ferro com o tesouro? Ou estarão, elas, clamando por justiça?
EL TESORO DE GARIBALDI
Escuché
esta historia junto de un fogón a leña contada por tías abuelas, en noches de
luna llena, helada blanqueando
campos...¡frío de quebrar los huesos! mucho mate para los hombres, y para las
mujeres el mate dulce con bastante yerba
de té: manzanilla, carqueja, hinojo...nosotros, los niños, agachaditos aquí y allí apenas mirábamos...¡la
tal bebida para nosotros era prohibida!
y, escuchando los asuntos de los mayores teníamos los ojos asustados,
corazón a los saltos (aún más cuando caía una semilla de eucalipto sobre la
teja sonora).
La República Juliana
fenecía. Garibaldi, junto con Anita, resolvió emigrar a la Banda Oriental del Uruguay.
La suerte se había vuelto para el lado de los monarquistas que tenían
sus ojos y oídos por todos los rincones de la pampa.
Garibaldi consiguió llegar a la frontera pero,
informado por amigos republicanos, resolvió no parar en Yaguarón, pues su
presencia en la ciudad sería notada. Era
muy peligroso tan importante figura “farroupilha”* caer en manos
imperiales, mejor sería cruzar el río en
un lugar más distante y desierto – sus
amigos le dijeron. El Paso Centurión era
el lugar perfecto para tal peripecia; de allí, Melo estaba a algunas leguas.
El paso
era y, felizmente aún es, un local agreste y exuberante”, con bosque muy tupido
y - dicen – con mucha yarará – la víbora
de la cruz de los gauchos – de “bote” corto y certero. Hay
también, para facilitar las “monterias”, un empedrado natural, típico camino
de los quileros (con gente medio brasileña, medio oriental que, desde que el
mundo era mundo, conocía cada curva, cada camalote, cada isla del
río).
Pero Garibaldi
fue descubierto. Con los imperiales en
sus talones, desesperado, entierra todo su dinero y objetos de valor, citan
algunos que también una bandera de la República Riograndense,
regalo del General Bento Gonçalves – en tres grandes ollas de hierro y
vadea junto con Anita el Yaguarón, solamente con la ropa del cuerpo.
El tiempo
pasó. Después de refriegas en el Uruguay,
Garibaldi rumbeó para Europa, en dirección a su querida Italia – que en
aquellos tiempos era compuesta de varios reinos – para participar de su
unificación ¡pero esta es otra historia!
Después de pasar muchos años, un día, un
pobre gaucho que buscaba su res desgarrada, encontró en una de las cuevas más
perdidas del Paso Centurión, junto al
pie de una vieja y gran palmera pindó , semienterrada, ¡una gran olla de hierro
con muchas monedas de oro! Parte del
tesoro de Garibaldi. El suertudo mudó de vida. Compró tierras, una buena punta
de ganado y caballo de patrón para él y sus dos hijos.
La noticia del enriquecimiento corrió el mundo...
Un vecino malevo e inescrupuloso – de una envidia
terrible y con varios crímenes en sus espaldas, armó junto con otros de su mismo carácter una trampa
para el estanciero y sus hijos. Los lastimaron y torturaron de todas las
maneras para que confesaran: ¿Dónde estaban las otras ollas de hierro?
Pero si los tres sabían el lugar, el secreto murió con
ellos. Sus cuerpos fueron tirados en el
lecho del río y transformados en comida de peces.
Cuentan que – aún hoy – en noches de luna nueva, tres
luces vagan por los sarandíes que nacen junto a las piedras del Paso Centurión.
¿Serán las almas de los tres muertos guardando las otras dos ollas de hierro
con el tesoro? ¿o estarán ellas clamando por justicia?
*Farroupilha- revolucionario de Rio Grande del Sur que
luchaba por la independencia del Estado del resto del Brasil y de la corona
portuguesa.
*Tradução para o espanhol:
Dos amigos: Advogado e tradutor: Juan Pedro Alvez Suarez (in memoriam) e da professora Carina Lopez.
Pintura de Vasco Machado