Total de visualizações de página

quinta-feira, 2 de junho de 2016

CONTOS DO RIO JAGUARÃO/ LEYENDAS DEL RÍO YAGUARÓN 3ª Parte











O TESOURO DE GARIBALDI

Esta estória escutei à beira de fogão a lenha. Contada por tias-avós, em noites de lua cheia, geada branqueando os campos... frio de rachar!  Muito chimarrão para os homens, e para as mulheres o mate doce com muita erva de chá: manzanilha, carqueja, funcho...
Nós, crianças, acocoradas aqui e ali, somente olhávamos... a tal bebida nos era proibida! E, escutando as conversas dos mais velhos, tínhamos os olhos esbugalhados, coração aos sobressaltos (ainda mais quando caía alguma semente de “ocalito” sobre o telhado de zinco!).
 A República Juliana fenecia.
Garibaldi, junto a Anita, resolveu emigrar para a Banda Oriental do Uruguai.
 A sorte estava virando para o lado dos monarquistas, que tinham olhos e ouvidos por todos os rincões do Pampa.
Garibaldi conseguiu chegar até a fronteira, mas, informado por amigos republicanos, resolveu não fazer pouso em Jaguarão, pois sua presença na cidade seria notada. Era muito perigosa tão importante figura, farroupilha cair em mãos imperiais!  Melhor seria cruzar o rio num lugar mais distante e ermo -  convenceram-lhe os amigos.
O Passo do Centurião era o lugar perfeito para tal peripécia. Dali, Melo estava a algumas léguas.
O Passo era, e felizmente ainda é, um local agreste e luxuriante, com mato muito fechado e - dizem -  com muita cobra urutu -  a “cruzeira de los gauchos" -  de bote curto e certeiro.
Havia também, para facilitar as montarias, um empedrado natural, típico “camino de los quileros” (gente meio brasileira, meio oriental, que, desde que o mundo é mundo, conhecia cada curva, cada camalote, cada ilha do rio).
Mas Garibaldi foi descoberto.
Com os imperiais em seu encalço, desesperado, enterra todo o seu dinheiro e pertences de valor - dizem que inclusive uma bandeira da República Rio-Grandense, presente do general Bento Gonçalves - em três grandes panelas de ferro e vadeia, junto com Anita, o Jaguarão, somente com a roupa do corpo.
O tempo passou...
Após escaramuças no Uruguai, Garibaldi tomou o rumo da Europa, em direção à sua querida Itália - que naqueles tempos ainda era composta de vários reinos - para participar de sua unificação...  Bom, mas isso é outra história!
Correram os anos e, um dia, um pobre gaudério, que procurava uma rês desgarrada, achou, numa das grotas mais perdidas do Passo do Centurião, junto ao pé de um velho e grande jerivá, semienterrada, uma grande panela de ferro com muitas moedas de ouro.
Era parte do tesouro de Garibaldi.
O sortudo mudou de vida, comprou terra, uma boa ponta de gado, e cavalo de patrão pra ele e seus dois filhos. .A notícia do enriquecimento correu mundo...
Um vizinho, homem maleva, inescrupuloso, de uma inveja medonha e com vários crimes nas costas, armou, junto com outros de sua laia, uma cilada para o estancieiro e seus filhos.
Fizeram toda espécie de judiaria e tortura, para que confessassem: “Onde estavam as outras duas panelas de ferro? ”Mas, se os três sabiam o lugar,  o segredo morreu com eles.
Os corpos foram atirados num perau e viraram comida de peixe.
Contam que, ainda hoje, em noites de lua nova, três luzes vagueiam por entre os sarandis que nascem junto às pedras do Passo do Centurião.
Serão as almas dos três mortos guardando as outras duas panelas de ferro com o tesouro? Ou estarão, elas, clamando por justiça?

EL TESORO DE GARIBALDI
 
     
      Escuché esta historia junto de un fogón a leña contada por tías abuelas, en noches de luna llena, helada  blanqueando campos...¡frío de quebrar los huesos! mucho mate para los hombres, y para las mujeres el mate dulce con  bastante yerba de té: manzanilla, carqueja, hinojo...nosotros, los niños,  agachaditos aquí y allí apenas mirábamos...¡la tal bebida para nosotros era prohibida!  y, escuchando los asuntos de los mayores teníamos los ojos asustados, corazón a los saltos (aún más cuando caía una semilla de eucalipto sobre la teja sonora).
   La República Juliana fenecía. Garibaldi, junto con Anita, resolvió emigrar a la Banda Oriental del  Uruguay.  La suerte se había vuelto para el lado de los monarquistas que tenían sus ojos y oídos por todos los rincones de la pampa.
Garibaldi consiguió llegar a la frontera pero, informado por amigos republicanos, resolvió no parar en Yaguarón, pues su presencia en la ciudad sería notada.  Era muy peligroso tan importante figura “farroupilha”* caer en manos imperiales,  mejor sería cruzar el río en un lugar más distante y desierto  – sus amigos le dijeron. El Paso  Centurión era el lugar perfecto para tal peripecia; de allí, Melo estaba a algunas leguas.
      El paso era y, felizmente aún es, un local agreste y exuberante”, con bosque muy tupido y - dicen – con mucha yarará – la víbora de la cruz de los gauchos – de “bote” corto y certero.  Hay  también, para facilitar las “monterias”, un empedrado natural, típico camino de los quileros (con gente medio brasileña, medio oriental que, desde que el mundo era mundo, conocía cada curva, cada camalote, cada isla  del  río).
     Pero Garibaldi fue descubierto.  Con los imperiales en sus talones, desesperado, entierra todo su dinero y objetos de valor, citan algunos que también una bandera de la República Riograndense, regalo del General Bento Gonçalves – en tres grandes ollas de  hierro y  vadea junto con Anita el Yaguarón, solamente con la ropa del cuerpo.
     El tiempo pasó. Después de  refriegas en el Uruguay, Garibaldi rumbeó para Europa, en dirección a su querida Italia – que en aquellos tiempos era compuesta de varios reinos – para participar de su unificación ¡pero esta es  otra historia!
     Después de pasar muchos años, un día, un pobre gaucho que buscaba su res desgarrada, encontró en una de las cuevas más perdidas del Paso  Centurión, junto al pie de una vieja y gran palmera pindó , semienterrada, ¡una gran olla de hierro con muchas monedas de oro!  Parte del tesoro de Garibaldi. El suertudo mudó de vida. Compró tierras, una buena punta de ganado y caballo de patrón para él y sus dos hijos.
La noticia del enriquecimiento corrió el mundo...
Un vecino malevo e inescrupuloso – de una envidia terrible y con varios crímenes en sus espaldas, armó junto  con otros de su mismo carácter una trampa para el estanciero y sus hijos. Los lastimaron y torturaron de todas las maneras para que confesaran: ¿Dónde estaban las otras ollas de hierro? 
Pero si los tres sabían el lugar, el secreto murió con ellos.  Sus cuerpos fueron tirados en el lecho del río y transformados en comida de peces.
Cuentan que – aún hoy – en noches de luna nueva, tres luces vagan por los sarandíes que nacen junto a las piedras del Paso Centurión. ¿Serán las almas de los tres muertos guardando las otras dos ollas de hierro con el tesoro? ¿o estarán ellas clamando por justicia?

*Farroupilha- revolucionario de Rio Grande del Sur que luchaba por la independencia del Estado del resto del Brasil y de la corona portuguesa.





*Tradução para o espanhol:
Dos amigos: Advogado e tradutor: Juan Pedro Alvez Suarez (in memoriam) e da professora Carina Lopez.
Pintura de Vasco Machado

terça-feira, 31 de maio de 2016

LENDAS DO RIO JAGUARÃO/ LEYENDAS DEL RÍO YAGUARÓN Parte 2ª

                                Contrabando de 'caña" - Passo do Sarandí - Rio Jaguarão   
                              Foto gentilmente cedida pelo amigo  jornalista João Alberto




CONTRABANDO

Os arbustos ribeirinhos balançavam lentamente, movidos que eram por uma brisa de entrada da primavera.
O rumor de maior vulto, naquela calmaria, era o marulhar do rio nos pedregulhos. Muito ao longe, o latido dos cães nalguma estância.
Gimenez esperava, mastigando nervosamente uma folha.
 Atrás de si, quatro gordas mulas cargueiras, carregadas até “os topes” de charque. Uma delas, mais afoita, começou a escavar o chão. Gimenez soltou uma praga: “Quedate quieta, hija de puta!!”  Como se entendesse, o animal voltou a apaziguar-se.
Era horrível, cada minuto lhe parecendo horas, dias, meses!
A Lua, por breves instantes, surgiu por dentre as trevas. De relance, e procurando se ocultar mais, Gimenez contemplou-a e isso,  momentaneamente, desanuviou-lhe os  pensamentos.
Lembrou-se de Maria.  Brasileira, filha duns gringos que possuíam uma venda forte lá para as bandas do Cerrito. Gimenez jurara que se casariam e teriam um rancho todo caiado de branco, um jardim e ... ah, sim! daria  a ela um vestido daqueles finos, que um dia vira, quando fora a Montevideo.  
Lembrou-se também da última vez que se falaram, e do que Maria achara da nova profissão:
- Essa não, amor ! Os aduaneiros te matarão! Eu te quero vivo!   -   e, ao dizer isso, atirou-se em seus braços.
Gimenez ainda sentia o perfume de seus cabelos  -   cheiro a flor de laranjeira, dessas bem crioulas, nascidas em fundo de pátio.
-Mas “negra”, sou pobre, e para os pobres a vida deixa poucos  caminhos...  Entre ser peão de estância, viver de changa, ou ser contrabandista, prefiro a última. Pelo menos, sou dono do meu nariz!
Voltou à realidade ao ouvir um longo assobio seguido de dois breves. Era o sinal.
Sorrateiramente, guiou as bestas em direção ao rio.
No lado uruguaio havia a proteção dos salseiros. E no brasileiro? Somente os sarandis. Depois, o campo. Campo limpo e banhado.
Naquele local, o Jaguarão não tinha mais que um metro de profundidade; o perigo eram as pedras, principalmente as pontiagudas e cobertas de limo.         
Em pouco tempo, estava no Brasil. Agora era rumar ao ponto de encontro: um cabonete onde, soberbamente, dominavam cinco coposos butiazeiros.
 De repente, um grito:
 - Quem vem lá?
 Gimenez mandou a senha:
 - Zorro manso!   
 Por segundos , tudo ficou em silêncio.  A vida parecia que parara.
 Gimenez, pressentindo o perigo, apertou com vontade o Smith. Um brado ecoou na solidão do pampa: “Fogo!”   Clarões rasgaram a escuridão. Cheiro de pólvora. Cheiro de morte.
 As mulas fugiram, engolidas pela noite.
 Gimenez esporeou o cavalo, buscando o caminho já percorrido, galgando o outro lado. Seu “45” pipocou, infernal. Ouviu gritos de dor. Sentia as unhas-de-gato rasgar-lhe as roupas e a carne. O rio! Tinha de alcançá-lo! Era seu último elo com a vida!
 Faróis se acendiam. Mais alvoroço: “Este castelhano, hoje, não escapa!”
 De repente, sentiu seu ombro flamejar, parecia que havia sido marcado. Estava ferido!. Instintivamente, agarrou-se às crinas do cavalo, que, bravamente, nadava em direção a outra margem.
 Pensou em Maria... no rancho... Depois, tudo começou a girar. Acreditou  que a vida lhe fugia.
 Gimenez acordou. Quanto tempo havia se passado? Não sabia como precisar. Sentiu o pasto molhado de orvalho tocando-lhe a  cara. A seu lado, o fiel pingo.  Deu-lhe uma olhada e balbuciou: “Gracias, viejo!”  A boca estava seca. Tinha frio.
No firmamento, as estrelas cintilavam e as primeiras barras do dia começavam a contracenar com a placidez do Jaguarão.
Um casal de garças cruzou o céu.
Gimenez sentiu, lentamente, lágrimas rolarem pelo seu rosto quase imberbe.   
Como era gostoso estar vivo!       

CONTRABANDO

Los arbustos ribereños se mecían lentamente, movidos que eran por una brisa de entrada da primavera.
El rumor de mayor tamaño, en aquella calma, era o olear del río en los pedregullos. Muy a lo lejos, el ladrar de los canes en alguna estancia.
Giménez esperaba, masticando nerviosamente una hoja.
 Atrás de sí, cuatro gordas mulas cargueras, cargadas hasta “el tope” de charque. Una de ellas, más nerviosa, comenzó a cavar el suelo. Giménez soltó una maldición: “¡Quedate quieta, hija de puta!”  Como se entendiera, el animal volvió a calmarse.
Era horrible, ¡cada minuto le parecía horas, días, meses!
A Luna, por breves instantes, surgió por entre las tinieblas. De relance, y momentaneamente, se le disiparon los  pensamientos.
Se acordó de María.  Brasileña, hija de unos gringos que tenían un comercio fuerte allá para las bandas del Cerrito. Giménez había jurado que se casarían y tendrían un rancho todo encalado de blanco, un jardín y... ¡ah, sí! Le daría un vestido de aquellos finos, que un día vendrá, cuando vaya a Montevideo.  
Se acordó también de la última vez que se hablaron, y que María achara da nova profesión:
- ¡Por favor no, amor! Los aduaneros te matarán! ¡Yo te quiero vivo! - y, al decir eso, se lazó a sus brazos.
Giménez todavía sentía el perfume de sus cabellos - olor a flor de naranjo, de esos bien criollos, nacidos en el fondo del patio.
-Pero “negra”, soy pobre, y para os pobres la vida deja pocos  caminos...  Entre ser peón de estancia, vivir de changa, o ser contrabandista, prefiero la última. ¡Por lo menos, soy dueño de mi nariz!
Volvió a la realidad al oír un largo chiflado seguido de dos breves. Era la señal.
Matreramente, condujo las bestias en dirección al río.
En el lado uruguayo estaba la protección de los sauces. ¿Y en el brasileño? Solamente los sarandís. Después, el campo. Campo limpio y bañado.
En aquel local, el Yaguarón no tenía más de un metro de profundidad; el peligro eran las piedras, principalmente las puntiagudas y cubiertas de limo.         
En poco tiempo, estaba en el Brasil. Ahora era rumbear al punto de encuentro: un montecito de eucaliptos  donde, soberbiamente, dominaban cinco coposos butiás.
 De repente, un grito:
 - ¿Quién viene?
 Giménez mandó la seña:
 - Zorro manso!   
 Por unos segundos, todo quedó en silencio. La vida parecía que había parado.
 Giménez, presintiendo el peligro, apretó fuerte el Smith. Un grito resonó en la soledad de la pampa: “¡Fuego!”   Fogonazos rasgaron la oscuridad. Olor de pólvora. Olor de muerte.
 Las mulas huyeron, tragadas por la noche.
 Giménez le clavó las espuelas al caballo, buscando el camino ya recorrido, subiendo el otro lado. Su “45” estallaba, infernal. Oyó gritos de dolor. Sentía las uñas de gato rasgándole las ropas y la carne. ¡El río! ¡Tenía que alcanzarlo! Era su último eslabón con la vida!
 Faroles se prendían. Más alboroto: “¡Este castellano, hoy, no se escapa!”
 De repente, sintió su hombro flamear, parecía que había sido marcado. ¡Estaba herido!. Instintivamente, se agarró a las clinas del caballo, que, bravamente, nadaba en dirección a la otra orilla.
 Pensó en María... en el rancho... Después,  todo comenzó a girar. Creyó que la vida se le iba.
 Giménez despertó. ¿Cuánto tiempo había ya pasado? No sabía cómo calcular. Sintió el pasto mojado de rocío tocándole la  cara. A su lado, o fiel pingo.  Le dio una mirada y balbució: “¡Gracias, viejo!” La boca estaba seca. Tenía frío.
En el firmamento, las estrellas parpadeaban y las primeras barras del día comenzaban a contracenar con la placidez del Yaguarón.
Un par de garzas cruzó el cielo.
Giménez sintió, lentamente, lágrimas rodaron por su rostro casi imberbe.   
¡Cómo era lindo estar vivo!     

*Tradução para o espanhol:
Dos amigos: Advogado e tradutor: Juan Pedro Alvez Suarez  (in memoriam) e da professora Carina Lopez