Total de visualizações de página

terça-feira, 31 de maio de 2016

LENDAS DO RIO JAGUARÃO/ LEYENDAS DEL RÍO YAGUARÓN Parte 2ª

                                Contrabando de 'caña" - Passo do Sarandí - Rio Jaguarão   
                              Foto gentilmente cedida pelo amigo  jornalista João Alberto




CONTRABANDO

Os arbustos ribeirinhos balançavam lentamente, movidos que eram por uma brisa de entrada da primavera.
O rumor de maior vulto, naquela calmaria, era o marulhar do rio nos pedregulhos. Muito ao longe, o latido dos cães nalguma estância.
Gimenez esperava, mastigando nervosamente uma folha.
 Atrás de si, quatro gordas mulas cargueiras, carregadas até “os topes” de charque. Uma delas, mais afoita, começou a escavar o chão. Gimenez soltou uma praga: “Quedate quieta, hija de puta!!”  Como se entendesse, o animal voltou a apaziguar-se.
Era horrível, cada minuto lhe parecendo horas, dias, meses!
A Lua, por breves instantes, surgiu por dentre as trevas. De relance, e procurando se ocultar mais, Gimenez contemplou-a e isso,  momentaneamente, desanuviou-lhe os  pensamentos.
Lembrou-se de Maria.  Brasileira, filha duns gringos que possuíam uma venda forte lá para as bandas do Cerrito. Gimenez jurara que se casariam e teriam um rancho todo caiado de branco, um jardim e ... ah, sim! daria  a ela um vestido daqueles finos, que um dia vira, quando fora a Montevideo.  
Lembrou-se também da última vez que se falaram, e do que Maria achara da nova profissão:
- Essa não, amor ! Os aduaneiros te matarão! Eu te quero vivo!   -   e, ao dizer isso, atirou-se em seus braços.
Gimenez ainda sentia o perfume de seus cabelos  -   cheiro a flor de laranjeira, dessas bem crioulas, nascidas em fundo de pátio.
-Mas “negra”, sou pobre, e para os pobres a vida deixa poucos  caminhos...  Entre ser peão de estância, viver de changa, ou ser contrabandista, prefiro a última. Pelo menos, sou dono do meu nariz!
Voltou à realidade ao ouvir um longo assobio seguido de dois breves. Era o sinal.
Sorrateiramente, guiou as bestas em direção ao rio.
No lado uruguaio havia a proteção dos salseiros. E no brasileiro? Somente os sarandis. Depois, o campo. Campo limpo e banhado.
Naquele local, o Jaguarão não tinha mais que um metro de profundidade; o perigo eram as pedras, principalmente as pontiagudas e cobertas de limo.         
Em pouco tempo, estava no Brasil. Agora era rumar ao ponto de encontro: um cabonete onde, soberbamente, dominavam cinco coposos butiazeiros.
 De repente, um grito:
 - Quem vem lá?
 Gimenez mandou a senha:
 - Zorro manso!   
 Por segundos , tudo ficou em silêncio.  A vida parecia que parara.
 Gimenez, pressentindo o perigo, apertou com vontade o Smith. Um brado ecoou na solidão do pampa: “Fogo!”   Clarões rasgaram a escuridão. Cheiro de pólvora. Cheiro de morte.
 As mulas fugiram, engolidas pela noite.
 Gimenez esporeou o cavalo, buscando o caminho já percorrido, galgando o outro lado. Seu “45” pipocou, infernal. Ouviu gritos de dor. Sentia as unhas-de-gato rasgar-lhe as roupas e a carne. O rio! Tinha de alcançá-lo! Era seu último elo com a vida!
 Faróis se acendiam. Mais alvoroço: “Este castelhano, hoje, não escapa!”
 De repente, sentiu seu ombro flamejar, parecia que havia sido marcado. Estava ferido!. Instintivamente, agarrou-se às crinas do cavalo, que, bravamente, nadava em direção a outra margem.
 Pensou em Maria... no rancho... Depois, tudo começou a girar. Acreditou  que a vida lhe fugia.
 Gimenez acordou. Quanto tempo havia se passado? Não sabia como precisar. Sentiu o pasto molhado de orvalho tocando-lhe a  cara. A seu lado, o fiel pingo.  Deu-lhe uma olhada e balbuciou: “Gracias, viejo!”  A boca estava seca. Tinha frio.
No firmamento, as estrelas cintilavam e as primeiras barras do dia começavam a contracenar com a placidez do Jaguarão.
Um casal de garças cruzou o céu.
Gimenez sentiu, lentamente, lágrimas rolarem pelo seu rosto quase imberbe.   
Como era gostoso estar vivo!       

CONTRABANDO

Los arbustos ribereños se mecían lentamente, movidos que eran por una brisa de entrada da primavera.
El rumor de mayor tamaño, en aquella calma, era o olear del río en los pedregullos. Muy a lo lejos, el ladrar de los canes en alguna estancia.
Giménez esperaba, masticando nerviosamente una hoja.
 Atrás de sí, cuatro gordas mulas cargueras, cargadas hasta “el tope” de charque. Una de ellas, más nerviosa, comenzó a cavar el suelo. Giménez soltó una maldición: “¡Quedate quieta, hija de puta!”  Como se entendiera, el animal volvió a calmarse.
Era horrible, ¡cada minuto le parecía horas, días, meses!
A Luna, por breves instantes, surgió por entre las tinieblas. De relance, y momentaneamente, se le disiparon los  pensamientos.
Se acordó de María.  Brasileña, hija de unos gringos que tenían un comercio fuerte allá para las bandas del Cerrito. Giménez había jurado que se casarían y tendrían un rancho todo encalado de blanco, un jardín y... ¡ah, sí! Le daría un vestido de aquellos finos, que un día vendrá, cuando vaya a Montevideo.  
Se acordó también de la última vez que se hablaron, y que María achara da nova profesión:
- ¡Por favor no, amor! Los aduaneros te matarán! ¡Yo te quiero vivo! - y, al decir eso, se lazó a sus brazos.
Giménez todavía sentía el perfume de sus cabellos - olor a flor de naranjo, de esos bien criollos, nacidos en el fondo del patio.
-Pero “negra”, soy pobre, y para os pobres la vida deja pocos  caminos...  Entre ser peón de estancia, vivir de changa, o ser contrabandista, prefiero la última. ¡Por lo menos, soy dueño de mi nariz!
Volvió a la realidad al oír un largo chiflado seguido de dos breves. Era la señal.
Matreramente, condujo las bestias en dirección al río.
En el lado uruguayo estaba la protección de los sauces. ¿Y en el brasileño? Solamente los sarandís. Después, el campo. Campo limpio y bañado.
En aquel local, el Yaguarón no tenía más de un metro de profundidad; el peligro eran las piedras, principalmente las puntiagudas y cubiertas de limo.         
En poco tiempo, estaba en el Brasil. Ahora era rumbear al punto de encuentro: un montecito de eucaliptos  donde, soberbiamente, dominaban cinco coposos butiás.
 De repente, un grito:
 - ¿Quién viene?
 Giménez mandó la seña:
 - Zorro manso!   
 Por unos segundos, todo quedó en silencio. La vida parecía que había parado.
 Giménez, presintiendo el peligro, apretó fuerte el Smith. Un grito resonó en la soledad de la pampa: “¡Fuego!”   Fogonazos rasgaron la oscuridad. Olor de pólvora. Olor de muerte.
 Las mulas huyeron, tragadas por la noche.
 Giménez le clavó las espuelas al caballo, buscando el camino ya recorrido, subiendo el otro lado. Su “45” estallaba, infernal. Oyó gritos de dolor. Sentía las uñas de gato rasgándole las ropas y la carne. ¡El río! ¡Tenía que alcanzarlo! Era su último eslabón con la vida!
 Faroles se prendían. Más alboroto: “¡Este castellano, hoy, no se escapa!”
 De repente, sintió su hombro flamear, parecía que había sido marcado. ¡Estaba herido!. Instintivamente, se agarró a las clinas del caballo, que, bravamente, nadaba en dirección a la otra orilla.
 Pensó en María... en el rancho... Después,  todo comenzó a girar. Creyó que la vida se le iba.
 Giménez despertó. ¿Cuánto tiempo había ya pasado? No sabía cómo calcular. Sintió el pasto mojado de rocío tocándole la  cara. A su lado, o fiel pingo.  Le dio una mirada y balbució: “¡Gracias, viejo!” La boca estaba seca. Tenía frío.
En el firmamento, las estrellas parpadeaban y las primeras barras del día comenzaban a contracenar con la placidez del Yaguarón.
Un par de garzas cruzó el cielo.
Giménez sintió, lentamente, lágrimas rodaron por su rostro casi imberbe.   
¡Cómo era lindo estar vivo!     

*Tradução para o espanhol:
Dos amigos: Advogado e tradutor: Juan Pedro Alvez Suarez  (in memoriam) e da professora Carina Lopez          

LENDAS DO RIO JAGUARÃO / LEYENDAS DEL RÍO YAGUARÓN - 1ª Parte

                                   Xilogravura de Leandro Barrios - artista uruguaio.



O JAGUAR GRANDE


O nome do rio Jaguarão e da cidade homônima têm origem numa antiga lenda indígena guarani.
Contavam-na os velhos pajés, quase em sussurros, ao pé das grandes fogueiras, em noites estreladas de verão, ante o “cri-cri” dos grilos e o clamor triste das corujas.
Naqueles tempos, os guaranis eram os donos deste chão. Não havia o homem branco, com seu jeito difícil de lidar com a Mãe Terra.
 Yaguaru, ou Yaguaron, era um bicho horripilante: meio jaguar, meio peixe, do tamanho de um cavalo pequeno; pelo espesso como o da capivara; boca crivada de dentes como os da traíra e pontudos e afiados como os espinhos da coronilha.
Tinha olhos flamejantes, que brilhavam na escuridão.   Seu urro parecia sair das profundezas do inferno.  Adorava ver correr sangue!
Para tocaiar suas presas - homens, mulheres e até curumins - usava de um estratagema: com suas garras, grandes como espadas, fazia enormes buracos entre as barrancas junto às margens do rio.
Quando a vítima, incauta, passava por tal armadilha, seu peso fazia esta desabar. Era mais um desgraçado!
Matava dois, três, quatro... só por prazer! Comia, de algum deles, apenas os pulmões.
O bicho era o terror dos índios!
Os guaranis fizeram várias buscas para matá-lo. Procuraram perto da nascente, no meio das pedras, junto aos camalotes... e nada!  Na mata fechada, que existia, àquela época, perto da foz... nem rastro!
Até na Mirim andaram à procura do bicharoco!  Nada encontraram.
O Yaguaru teria sumido?!
Ninguém sabe.
Talvez ele esteja, ainda, nalguma barranca, nas curvas do rio Jaguarão, junto aos sarandizais, esperando por mais uma vítima...




EL JAGUAR GRANDE


El nombre do rio Yaguarón y de la ciudad homónima tienen origen en una antigua leyenda indígena guaraní.
La contaban los viejos brujos, casi en susurros, al pie de las grandes hogueras, en noches estrelladas de verano, ante el “cri-cri” de los grillos y el clamor triste de las lechuzas.
En aquellos tiempos, los guaranís eran los dueños de este suelo. No había el hombre blanco, con su modo difícil de lidiar con la Madre Tierra.
Yaguarú, o Yaguarón, era un bicho horripilante: medio yaguar, medio pescado, del tamaño de un caballo pequeño; pelo espeso como el de un capincho; boca llena de dientes como los de la tararira y puntiagudos e afilados como los espinos de la coronilla.
Tenía ojos flameantes, que brillaban en la oscuridad. Su grito parecía salir de las profundidades del infierno.  ¡Adoraba ver correr sangre!
Para emboscar sus presas - hombres, mujeres y hasta indiecitos- (curumins)* - usaba una estrategia: con sus garras, grandes como espadas, hacía enormes agujeros entre las barrancas junto a las márgenes del río.
Cuando la víctima, incauta, pasaba por tal armadilla, su peso hacía con que ésta desmoronara. ¡Era un desgraciado más!
Mataba dos, tres, cuatro... ¡sólo por placer! Comía, de alguno de ellos, apenas los pulmones.
¡El bicho era el terror de los indios!
Los guaraníes hicieron varias búsquedas para matarlo. Procuraron cerca de la naciente, en el medio de las piedras, en los camalotes... y nada!  En el monte tupido, que existía, en aquella época, cerca del foz... ¡ni rastro!
¡Hasta en la Merín anduvieron atrás del bichote!  Nada encontraron.
¡¿El Yaguarú habría desaparecido?!
Nadie sabe.
Tal vez él esté, aun, en alguna barranca, en las curvas del río Yaguarón, junto a los sarandizales, esperando por una víctima más...


*Curumins- palabra de origen guarani que significa niño indígena.