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sexta-feira, 18 de julho de 2008

Lendas do Rio Jaguarão

LENDAS DO RIO JAGUARÃO

O JAGUAR GRANDE

O nome do rio Jaguarão e da cidade homônima têm origem numa lenda indígena guarani.
Contavam os velhos pajés, quase em sussurros... Ao pé das grandes fogueiras... Em noite estrelada de verão... Cri-cri dos grilos e o clamar triste das corujas...
Naqueles tempos os guaranís eram donos desta terra. Não havia o homem branco com seu jeito difícil de lidar com a Mãe Terra... Yaguaru ou Yaguaron era um bicho horripilante, meio jaguar meio peixe. Do tamanho de um cavalo pequeno. Pêlo espesso como o da capivara. Boca crivada de dentes, como os da traíra; pontudos e afiados como os espinhos da coronilha. Tinha os olhos flamejantes que brilhavam na escuridão. Seu urro parecia sair das profundezas do inferno... Adorava ver correr sangue. Para tocaiar suas presas, homens, mulheres e até curumins, usava de um estratagema: com suas garras grandes como espadas, fazia enormes buracos, entre as barrancas; junto às margens do rio. Quando a vítima, incauta, passava por tal armadilha, seu peso fazia a mesma desabar. Era mais um desgraçado! Matava dois, três, quatro ou mais... Só por prazer. Comia, de algum deles, somente os pulmões. O bicho era o terror dos índios.
Os guaranis fizeram várias buscas para matá-lo. Procuraram, perto da nascente, no meio das pedras, junto aos camalotes e nada. Na mata fechada, que existia, naqueles tempos, perto da foz... Nem rastro... Até na Mirim andaram a procura do bicho!... Nada encontraram... O Yaguaru tinha sumido? Ninguém sabe... Talvez ele esteja nalguma barranca, nas curva do Rio Jaguarão, junto aos sarandizais esperando mais uma vítima.





O TESOURO DE GARIBALDI

Essa estória escutei à beira de fogão a lenha. Contada por tias-avós; em noite de lua cheia; geada branqueando os campos... Frio de rachar! Muito chimarrão, para os homens; para as mulheres mate doce, com muita erva de chá: manzanilha, carqueja ou funcho. Nós crianças, acocoradas aqui e ali, somente olhávamos... Tal bebida nos era proibida; e escutávamos as conversas dos mais velhos. Olhos esbugalhados! Corações em sobressaltos, ainda mais quando caia alguma semente de “ocalito” sobre o telhado de zinco...
Mas vamos ao caso: a República Juliana fenecia. Garibaldi, junto com Anita resolveram emigrar para a Banda Oriental do Uruguai. A sorte estava virando para o lado dos monarquistas; estes tinham olhos e ouvidos por todos os rincões do Pampa.
Garibaldi consegue chegar até a fronteira, mas informado por amigos republicanos, resolve não fazer pouso em Jaguarão, pois sua presença, na cidade seria notada. Era muito perigoso, tão importante figura farroupilha cair em mãos imperiais. Melhor seria cruzar o rio num lugar mais distante e ermo, convenceram-lhe os amigos. O Passo do Centurião era o lugar perfeito para tal peripécia... Dali, Melo estava a algumas léguas...
O “passo” era,e felizmente ainda é, um local agreste e luxuriante, com mato muito fechado e, dizem com muita cobra urutú, a “cruzeira” "de los gauchos", de bote curto e certeiro. Havia também, para facilitar as montarias, um “empedrado” natural, típico “camino de los quileros”. Gente meio brasileiro, meu oriental, que desde que o mundo é mundo conheciam cada curva, cada camalote ou cada ilha do rio.
Mas Garibaldi foi descoberto. Com os imperiais em seus encalços, desesperado enterra todo seu dinheiro e pertences de valor - dizem que inclusive uma bandeira da República Rio-Grandense, presente do general Bento Gonçalves- em três grandes panelas de ferro e vadeia, junto com Anita o Jaguarão, somente com a roupa do corpo...
O tempo passou. Após escaramuças no Uruguai, Garibaldi toma o rumo da Europa, em direção a sua querida Itália, que nesse tempo ainda era composta de vários reinos, para participar de sua unificação. Bom, mas isso é outra história!
Passaram-se os anos e um dia, um pobre gaudério, que procurava uma rês desgarrada, achou numa das grotas mais perdidas do Passo do Centurião, junto ao pé de um velho e grande jerivá, semi enterrada, uma grande panela de ferro com muitas moedas de ouro! Era parte do tesouro de Garibaldi!
O sortudo mudou de vida! Comprou terras... Uma boa ponta de gado, Cavalo de patrão para ele e seus dois filhos.
A notícia do enriquecimento correu mundo. Um vizinho, homem “maleva”, inescrupuloso, de uma inveja medonha e com vários crimes nas costas, armou, junto com outros de sua laia, uma cilada para o estancieiro e seus filhos. Toda a espécie de judiaria e torturas fizeram com eles, para que confessassem! Onde estavam as outras duas panelas de ferro?
Se, conheciam onde elas se encontravam, o segredo morreu com os três...
Os corpos foram atirados num “perau” e viraram comida de peixe...
Contam que ainda hoje em noite de lua nova, três luzes vagueiam por entre os sarandís, que nascem junto as pedras do Passo do Centurião. Serão as almas dos três mortos guardando as outras duas panelas de ferro com o tesouro ou estarão elas, clamando por justiça?

A VOLTA DO NEGRO MORTO

Numa das curvas que o Rio Jaguarão dá, antes de se abraçar com a Laguna Mirim, existe um local muito fundo, mais de 10 metros!... É a volta (no sentido de curva, ou geograficamente falando: meandro) do Negro Morto.
Contava uma “tia-velha” benzedeira em que os tempos, naquele corpo franzino, haviam parado. Dizem que falava com os passarinhos. Fumava palheiro e bebia suas cachacinhas; benzia tudo: espinhela caída, dor de amor, asma, mau olhado e temporal. Só para ficar no varejo!
Suas rezas levantavam cavalo velho, homem já com “aquilo” roto ou nuvem de gafanhoto- que naqueles tempos eram freqüentes. Era conhecida por Siá Severina. Morava na beira do rio.
Ela contava o causo do tal negro morto, medindo as palavras. Entre uma baforada e outra do "crioulo". Os bracinhos negros e frágeis da velha gesticulavam, dando uma ênfase maior ao causo.
Falava ela que, naqueles tempos, quando ainda havia escravidão no Brasil, muitos negros tentavam fugir para o Uruguai, pois naquele país essa chaga já havia sido sarada.
Um escravo, que ela não se lembrava do nome, tentou buscar a liberdade exatamente naquela local. Seu senhor, juntando uns agregados partiu, em busca do fujão.
Vendo-se perdido o escravo tomou a decisão: liberdade ou morte! E atirou-se no rio Jaguarão. Era um homem forte; nadava vigorosamente... As balas sibilavam a sua volta...
Infelizmente a liberdade cobrou seu preço. Estava do outro lado, porém com várias balas no corpo. Embaixo de um grande salso, na areia quente e com o zumbido das mutucas agonizou por horas... Até morrer. Seu corpo ficou ali, virando repasto das feras e abutres.
Poucas pessoas se aventuram a pescar naquele local, pois dizem que o tal escravo, o negro morto, que ficou insepulto aparece em noite de lua cheia pedindo para que seu corpo ganhe uma sepultura cristã.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bah não sabia o porque do nome de nego morto, mas agora q sei vou pensar antes de pescar ali!hehe

OBS:gostei muito das lendas!

ass:gustavo sicco

Josi disse...

Não sabia da existência desse blog. Parabéns por uma bela obra de arte sua.

Josi disse...

Quer dizer, mais uma de suas belas obras. PARABÉNS