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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Hélio Ramirez, o músico e compositor

Hélio Ramirez – o músico e compositor





Falar da arte musical de Hélio Ramirez é falar de natureza. Terra, ar água, plantas, bicho e seres humanos.
É falar de uma região em especial: o entorno da Lagoa Mirim e o Rio Jaguarão. Brasil, Uruguai; Uruguai, Brasil. Ali está o seu universo poético. Lá onde o Brasil começa (ou termina!? ). Fronteiras! Senfronteiras!... Meu Norte: O Sul!...
Verões mormacentos... Primavera de muitos pássaros, flores e cheiros... Outonos cálidos, com a vegetação nativa cheia de nuanças e matizes. Invernos de muito frio. Frio que nos aproxima. Para amar, tomar chimarrão ou um bom vinho tinto. Fogão a lenha. Panelas no fogo: carreteiro... Espinhaço com batatas...
Local de “tipos-fronteira”. Meios brasileiros, meio uruguaios. Meninos que vão pra cidade grande, deixando nesse trajeto a pureza: Jogo?, Vida? Piá, Peão... Mulheres jujueiras*, mulheres fortes; mulheres que não resolveram suas vidas e que tristes e solitárias lançam seus olhares até onde a vista alcança, pois sonho alcança mais. Mulheres feias, mulheres lindas. Índias. Brancas. Negras como Negrita Regina e “sus cinco negritos hambrientos”.
O grito dos quero-queros. A pitangueira e seus frutos maduros. As garças voando lentas e majestosamente sobre a mata. A traíra arredia fazendo a disparada dos lamparís nalgum remanso. Os hibiscos em flor às margens da Mirim. O Sangue-de-boi que surge prenunciando a primavera. A rusticidade das figueiras, galhos tortos- efeito do vento contínuo- e longos; braços abertos, como uma mãe abrigando diversas formas de vida. Jerivás e butiazeiros, este com seus frutos carnudos e gostosos. Doces, como os lábios de uma china; Alegria dos piás** e da bicharada. E principalmente da gauderiada*** que é chegada numa cachaça com butiá.
São acordes e letras de profundo senso de amor ao sul.


* Jujeiras: Vendedora de ervas de chá.
**Pia: Menino.
*** Gauderiada: pessoas.





Algumas participações artísticas de Hélio Ramirez


  • 1 º lugar no 4º Festival da Canção Rádio Cultura- Jaguarão;
  • 3º lugar na 1ª Charqueada da Canção Nativa de Pelotas;
  • 2º lugar na 2ª Charqueada da Canção Nativa de Pelotas;
  • 3º lugar na 3ª Charqueada da Canção Nativa de Pelotas;
  • Representante da Zona Sul do Estado no programa Sul em Canto da RBS Tv;

Fez apresentações musicais nos seguintes locais:



  • TV Educativa em Porto Alegre;
  • Programa Galpão Crioulo – RBS TV;
  • 1º e 2º Fórum Social Mundial em Porto Alegre;
  • Bar Opinião – Lançamento CD do Fórum Social – Porto Alegre;
  • Festival Orillas – Rio Branco – Uruguay;
  • 2º Encuentro Cultural Binacional – Lago Merin – Uruguay;
  • Melo – Uruguay;
  • Treinta y Tres - Uruguay;
  • Paysandu – Uruguay;
  • Rádio Gaúcha – Programa de Glênio Reis – Porto Alegre;
  • Teatro 7 de Abril – Pelotas;
  • Teatro Esperança - Jaguarão;
  • Montevideo – Uruguay;
  • Espaço Cultural Mário Quintana - Porto Alegre;
  • Trabalhadores sem fronteiras – Anfiteatro do Colégio Pelotense – Pelotas;


A "latinoamericanid"
Hélio Ramirez participou, assim como outros estudantes (a maioria advindos da zona de fronteira: Jaguarão, Sta. Vitória do Palmar, Bagé, Herval, Arroio Grande, entre outras cidades) e também do Uruguai, Argentina e outros países latinoamericanos, ativamente da formação de uma consciência latino americana na cidade de Pelotas historicamente pólo sócio-econômico cultural da região sul do Rio Grande do Sul.
Todos bebendo das fontes inspiradoras de poetas como P. Neruda, Lorca, Vinicius de Morais, Serafin J. Garcia e Jaime C. Blau; de escritores como Eduardo Galeano; de pensadores como Leonardo Boff; de músicos como Violeta Parra, Victor Jará, Quilla Payun, Inti Illimani, Chile; Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Los Fronterizos, Los Chalchaleros, Los Iracundos, Horacio Guarani, Leon Gieco, Jorge Cafrune, Piero-Jose, Argentina; Los Olimareños, Aníbal Sampayo, Ruben Lena, Alfredo Zitarrosa, “El Sabalero” José Carbaral, Daniel Viglietti, Numa Morais, Ruben Rada, as murgas e o candombe, Uruguai; Jose Maria Godoy da Nicarágua; Pablo Milanes e Silvio Rodrigues, Cuba; Bob Dylan, Joan Baez, Simon & Granfunke, Creedence Clearwater Revival, EUA; Grupo Tarancon, Raices de América, Os Tapes, Noel Guarani, Martim Coplas, Cenair Maicá, Dércio Marques, Diana Pequeno, Gonzagão e Gonzaguinha, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Belchior, Elis Regina, Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho, Almir Sater, Milton Nascimento, Beto Guedes, Sá & Guarabyra, Boca Livre, Theo de Barros, Geraldo Vandré, Tom Jobim, Rolando Boldrin, a viola caipira de Paulo Freire, Tom Zé e João do Vale, Brasil.
A época: nos últimos estertores da ditadura. Pura efervescência! Mais do que nunca podíamos expressar nossos cantos, nossas palavras, nossas loucuras... Veias abertas... Venas abierta de la América Latina!



Um estrada com muito canto e parcerias...
Hélio Ramirez participou de vários grupos e formações musicais. A todos com que dividiu o palco ele guarda o maior carinho.
Os mais importantes grupos ou formações musicais que Hélio Ramirez participou são:
GRUPO AMERICANDO, com Plínio Silveira e Jorge Passos;
QUATRO CANTOS, com Roseli Andrade, Pedro D’ Ávila e Conrado Maleski;
ACALANTO LATINO, com Régis Bardini, Fabrício Moura, Cláudio Vieira e Fábio Moura;
CAMINHOS DE SÍ, com Martim César (poeta e escritor) e Paulo Timm (músico);
Vários músicos e ritmos, com Thadeu Gomes, Bira, Mirian Fernandes, Regina Bainy, Dulce, Basílio Conceição, Sérgio Christino, Gil, Fábio Acosta, Juliandro Pedrosa, Daniel Brum, Fernando “Araçá”, Alcides “Salchicha” e Edu Damatta (Caboco).




Bar Americando, Balderrama pelotense.
Em decorrência do trabalho musical do Grupo Americando e por faltar local onde pudesse ser tocada música latinoamericana surge o Bar Americando. O espaço transformou-se num local onde todas as tribos conviviam numa grande harmonia.
O termo “americando” foi escolhido pelos integrantes do grupo como uma homenagem ao programa homônimo da TV Sodre – emissora estatal uruguaia- Americando levado ao ar todos os domingos, pela manhã, onde se apresentavam artistas da América Latina.
Mas deixemos que, nosso amigo e freqüentador assíduo do local, o poeta Álvaro Barcellos conte um pouco dessa história:



Americando
Transcorria o ano de 1984, o qual remetia ao romance (de 1948, atualíssimo) de George Orwell, que antecipava a propagação do pensamento único, hoje tão fortemente presente nos ventos devastadores do neoliberalismo. Mas era, na época, um ano em que começavam a soprar no Brasil algumas brumas de alento, eis que a passadas largas desmoronava, finalmente, o terror do regime militar, instalado no país a partir do golpe de 64, que depusera João Goulart, para colocar em seu lugar truculentos militares, que comandavam e disseminavam um regime de tortura, medo, perseguição e morte.
Como prova definitiva de que os dias cinzentos da ditadura estavam mesmo contados, surgiam aqui e acolá os mais variados movimentos, de alguma maneira até então sufocados, de renovação e busca de caminhos de resistência política e cultural.
É precisamente neste cenário que o grupo Americando, formado pelos jaguarenses Hélio Ramirez, Plínio Silveira e Jorge Passos, resolve instalar em Pelotas um bar com o mesmo nome.
Funcionando na Rua Marechal Deodoro, entre Senador Mendonça e Major Cícero, o bar transformou-se num espaço cultural verdadeiramente importante. Tudo ali era muito natural, espontâneo.
Os ambientes aconchegantes e o excelente atendimento eram grandes cartões de visita. Havia uma sala na frente com mesas e cadeiras cuidadosamente distribuídas. E era o lugar ideal para jantar. A segunda peça possuía no canto um balcão. Ao fundo, uma imensa estampa de pano trazia a emblemática e generosa silhueta de Mercedes Sosa. O pano ocupava toda a parede. Parecia um lençol. Lindo. Havia também um pequeno palco, onde normalmente os anfitriões, do grupo Americando, costumavam tocar. O repertório era basicamente latinoamericano. Respirava-se um aroma do Prata. Mais no fundo, havia mais duas ou três peças. Detalhe: normalmente, na penúltima e última peças, também rolava muita música. Os violões eram distribuídos, mui gentilmente, pelos próprios caras do bar. Por vezes, chegava-se lá, e em geral havia muita gente e o espaço era amplo, e podia-se ouvir o pessoal do grupo Americando, na segunda peça (a do palco), um outro pessoal com outro gênero musical na quarta peça, e por exemplo grito de carnaval na última peça. Certa feita, chegamos a sair de lá puxando um samba tão embalado, que percorremos o quarteirão como que anunciando carnaval. Era um espaço de profunda comunhão musical e multicultural.
Em outra oportunidade, os vizinhos, já meio indignados (deviam ter suas razões) com a turbulência do bar, uniram-se para tentar fechá-lo: organizaram um abaixo-assinado. Os freqüentadores, porém, percebendo a importância do espaço, responderam com outro (imenso) abaixo-assinado, garantindo um certo fôlego para que o bar continuasse aberto. Um dia, o Plínio me chamou num canto, e me disse em tom confidencial: ou trago a Mercedes Sosa no bar, ou derrubam o prédio. Derrubaram o prédio.
O bar fechou, longo tempo transcorreu, mas a semente de algum modo vingou. Todo aquele que, como eu, apreciava tanto a noite na época, pôde observar: se nunca mais houve nada parecido, talvez porque tudo tenha sua hora e lugar, o fato, no entanto, e isso é inquestionável, é que a noite pelotense jamais foi a mesma depois do Americando. Mais do que um bar, o espaço constituiu-se num marco, numa espécie de movimento de resistência, que modificou toda concepção de casa noturna em Pelotas. Perdi o contato por algum tempo com seus integrantes. Mas felizmente pude refazer esses contatos mais tarde. Tanto que já tenho até composições em parceria com Cláudio Vieira (Senha e A camponesa e o guerreiro), que era amigo dos caras, e com Hélio Ramirez (Ruína, composta em homenagem a Bob Dylan). Todas elas ainda estão inéditas em CD. No entanto, tudo tem seu tempo.
Mas o Americando foi mesmo um grande barato. E sua existência não se deu em vão. Seus frutos estão espalhados por aí. E os malucos que pensaram e conceberam aquele espaço também. Porque resistir, no fundo, se confunde um pouco com a própria arte de viver.

Álvaro Barcellos – poeta e letrista



A discografia
Hélio Ramirez começou gravando nos antigos LP, as populares e inesquecíveis “bolachas”. São os discos do Festival Charqueadas de Pelotas 1ª. 2ª e 3ª Charqueadas) e dos Festivais de Arroio Grande -RS
Esses festivais que aconteceram em Pelotas ainda carecem de um profundo estudo histórico musical; pelo que eles representaram para a cultura do Rio Grande do Sul, principalmente por sua oxigenação, pelos vários ritmos, linguajares e tribos.





Pedro Munhoz ao vivo – encantoria
De 1998, Hélio Ramirez fez participação especial na música de sua autoria Maria, charqueadas e fronteiras.




Canto Jaguarense e Outros Cantos
De 1999. Uma bela coletânea de vários músicos de Jaguarão. Nesse trabalho é reeditada a antiga formação do Grupo Americando, na música homônima. As músicas são:

- Barqueiro do Rio do Jaguarão
Letra e música: Hélio Ramirez
Guitarra: Fábio Acosta
Baixo: Daniel Brum
Percussão: Juliandro Pedrosa
Violões e vocal: Hélio Ramirez e Cláudio Vieira.
- Americando
Letra e música: Hélio Ramirez, Plínio Silveira e Jorge Passos (Grupo Americando)
Baixo: Daniel Brum
Guitarra: Fábio Acosta
Bangô: Juliandro Pedrosa
Violões: Cláudio Vieira, Plínio Silveira e Hélio Ramirez









SENFRONTEIRAS
De 2001. Finalmente surge seu primeiro CD solo, com 10 músicas de sua autoria e 2 de Thadeu Gomes





2º Fórum Social Mundial- Um outro Mundo é possivel
De 2002. Junto com outros artistas gaúchos, Hélio Ramirez participa desde Cd com a música de sua autoria Maria, Charqueadas e fronteiras.





Caminhos de Sí

De 2003/2004 com Martim César e Paulo Timm

4 comentários:

alvaro disse...

Hélio
parabéns pelo blog, rapaz. é um espaço importante, e um compositor e agitador cultural do teu porte não poderia deixar, mais cedo ou mais tarde, de ampliar teus nichos de comunicação. vida longa pro teu blog, e quem sabe pra nossa própria parceria musical. forte abraço
alvaro barcellos

renato moraes disse...

Boa tarde Helio!!!
Sou radialista na rádio Alfa FM ( 94,5) e um colega ( Eduardo) me pediu a musica Cerro da Polvora, acho que de tua autoria. Gostaria de saber se poderia me enviar para o e-mail:
chasquedegalpão@pop.com.br. Gratos, Um forte abraço. Renato Moraes

Unknown disse...

Sempre lembrado amigo Helio ainda lembro as primeras posiciones que voce me ensinho no violao ainda sigo admirando seu trabalho na musica. Como siempre voce es un gran maestro y eso lo consigue por su gran corazon..paso o tempo y existe muita distancia mais entre esta amistade mais sigo gostando da sua musica seu amigo el negro Roy de PANAMA

Unknown disse...

Prezado Hélio Ramirez
Adquiri o seu cd Senfronteiras através de encomenda.
Gostaria muito que você compusesse uma ópera baseada na Salamanca do Jarau, tal qual foi feito recentemente com O Quatrilho.
Disponho de material para subsidia-lo.